quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Yule - O Solstício de Inverno

In ancient days the folk of old
When chilled with fright by winter's cold
Did kindle up a great Yule fire
With leaping flames in its great pyre;

So to entice the waning sun
To rise again and wider run;
It's fiery course across the sky,
To warm them so they would not die.

So we, whose minds now sense a chill
Of anger in the evil will,
The human conflict, hate, and strife,
Which hold a menace over life;

Would kindle up a flame of love
That we within our hearts may move,
In Yuletide joy, with love embrace
And thus abide in peace and grace.


in Yule Fires, John G. MacKinnon


O termo Yule terá tido origem na palavra islandesa Jōl, designação de um festival pagão germânico celebrado durante 12 dias em torno do solstício de Inverno. Jōl significa “roda”, em referência ao ciclo anual de sucessão das estações. Este é o Sabbat que assinala o renascimento do Deus-Sol, após a noite mais longa do ano.


Embora existam muitas lendas pré-cristãs acerca do Yule, poucas revelam detalhes da sua prática pelos povos nórdicos, embora seja consensual que se tratava de uma ocasião muito festiva. De acordo com Adam de Bremen, os reis Suecos sacrificavam escravos a cada nove anos, durante o Yule, no templo de Uppsala. Estes festejos invernais permaneceram em uso na Islândia durante a Idade Média, mas a chegada dos Protestantes (que não viam a festa com bons olhos) veio prejudicar a continuação da tradição.


Um escritor inglês medieval relata que os missionários cristãos enviados para evangelizar os povos germânicos do Norte Europeu tinham instruções para introduzir temas cristãos nas festas pagãs, mantendo-as no seu aspecto cultural mas mutando-as no seu cariz religioso. Assim terá nascido o Natal, criado a partir de histórias que associavam o nascimento de Jesus de Nazaré ao Yule (um pouco como terá sucedido com o Samhain e o Dia de Todos-os-Santos). A ideia de associar o nascimento de Cristo ao Solstício de Inverno terá sido igualmente influenciada pela Saturnália, o maior festival público da Roma pré-cristã, que de um dia (17 de Dezembro) se tornou numa semana de folia (até 23 de Dezembro) em honra de Saturno.


Muitos dos símbolos que hoje associamos ao Natal derivam do Yule nórdico:


O tronco de Natal (Yule log)

No Yule dos povos germânicos antigos, o Deus Thor seria uma das figuras centrais. Thor, senhor dos trovões, era também associado ao carvalho, e por isso seria costume utilizar um tronco de carvalho como forma de venerar a divindade. O tronco, escolhido no Solstício de Inverno do ano anterior, era decorado com pinhas e agulhas de pinheiro. Pequenos pedaços de papel contendo os desejos para o novo ano eram introduzidos na folhagem, o tronco era queimado durante o Yule e as suas cinzas preservadas, pois dizia-se que possuíam propriedades mágicas.


Algures entre os sécs. XVIII e XIX, o tronco de Natal tornou-se numa apreciada sobremesa originalmente confeccionada por pasteleiros franceses, e é este o formato pelo qual melhor o conhecemos.


A árvore de Natal (Yule tree)


As árvores, como o tronco do Yule, estiveram sempre associadas à veneração do Deus Thor, em especial durante o Solstício de Inverno. Mas é a S. Bonifácio que a tradição atribui a criação da primeira árvore de Natal. Bonifácio, um missionário cristão, terá derrubado o Carvalho de Thor em Geismar, deixando que um jovem abeto se desenvolvesse junto às raízes da árvore morta. Para Bonifácio o abeto tornou-se um símbolo do triunfo do Cristianismo sobre as crenças pagãs, e mais tarde seria Martinho Lutero o primeiro a colocar luzes na árvore de Natal.


O azevinho (holly) e o visco (mistletoe)


O azevinho era, para os druidas, a planta mais sagrada, aquela que governava sobre o Inverno e o seu solstício. Os romanos pré-cristãos consideravam-no símbolo de Saturno, celebrado precisamente na Festa do Sol a 25 de Dezembro. Quanto ao visco, os seus frutos surgem por volta do Solstício de Inverno, e seriam também utilizados nos rituais celtas. Mais tarde surgiu o costume, de origem britânica, que sentencia que duas pessoas que se encontrem debaixo do visco devem beijar-se.



O Neopaganismo moderno celebra o Yule como o final das noites escuras e frias, das trevas da morte e da estagnação. Aqui é possível estabelecer um paralelismo muito próximo com o Natal cristão: assim como a Deusa-Mãe dá à luz a Criança Divina, o Deus-Sol que fará voltar os dias longos, o calor e a vida à Terra adormecida, também a Virgem Maria fez nascer Jesus, o Messias que veio iluminar a Humanidade com a sua palavra divina. Independentemente daquilo em que acreditamos (ou dos nomes diferentes que pretendem distinguir coisas na realidade muito semelhantes), este é sem dúvida um momento de alegria e esperança: a Luz está já a caminho, e com ela dias melhores virão!