segunda-feira, 26 de novembro de 2007

The Nuts and Bolts of Meditation - Parte III

CÉREBROS E COMPUTADORES

Se compararmos o cérebro a um computador poderemos compreender melhor os processos físicos que nele ocorrem. Um computador consiste num mecanismo electrónico que contem programas, e que é capaz de processar informação proveniente de fontes internas e externas. Por exemplo, o nosso computador pode ter um programa de e-mail, um processador de texto e um programa de desenho. Quando queremos ver o nosso e-mail, damos a ordem para que o computador se ligue ao servidor e publique os resultados dessa ligação no nosso monitor, de modo a que possamos interagir com eles a um nível consciente.

Um computador pode processar informação em apenas um programa, num determinado instante. Pode parecer que lida com vários programas simultaneamente, mas o que na realidade faz é “saltar” entre os programas que estão activos e os inputs que vai recebendo de fontes externas. Esses “saltos” são tão rápidos que normalmente não nos apercebemos deles, parecendo-nos que o computador executa várias tarefas simultaneamente quando, na realidade, é capaz de processar apenas uma tarefa de cada vez.

Tal como o computador, o cérebro contém centros de processamento com “programas” para os nossos 5 sentidos, além de inputs de todos os órgãos internos até ao nível das células. Porém, ao contrário do computador, o cérebro é um organismo vivo, que funciona por processos electroquímicos, e por isso nunca se desliga. O cérebro funciona em contínuo, processando biliões de “bites” de informação contidos nos dados sensoriais provenientes do contacto com o meio exterior.

Sabemos menos do funcionamento do cérebro do que de qualquer outra coisa existente no mundo físico. Um dos desafios mais difíceis tem sido o facto de não ser possível encontrar uma localização física para a memória. Aliás, existe já um considerável conjunto de provas científicas que apontam para um conceito de memória que não está circunscrito ao cérebro físico. Este e outros aspectos serão discutidos mais à frente, mas por agora veremos de que forma a ciência actual explica a memória.

Memória de Longo Prazo

A nossa memória de longo prazo contém todas as informações que alguma vez foram processadas no cérebro durante o seu período de vida. Isso inclui factos, números, nomes, imagens. A maioria das pessoas não será capaz de se lembrar o que comeu ao almoço no dia 5 de Abril de há 20 anos, ou a matricula de todos os veículos que se cruzaram consigo no seu passeio mais recente. E no entanto esta informação permanece armazenada no cérebro, com todos os seus detalhes. A memória declarativa pode ser comparada ao disco rígido do computador. As suas informações permanecem guardadas até que um “programa” as active, mostrando-as no “ecrã” da consciência. Se me quiser lembrar onde parei o carro quando terminar as minhas compras no supermercado, essa informação torna-se imediatamente disponível a partir da minha memória.

Memória Procedural

A memória procedoral inclui acções, hábitos ou capacidades que aprendemos por repetição. Exemplos incluem jogar ténis, andar de bicicleta, andar, nadar, tocar um instrumento musical. A memória procedural permite-nos desempenhar tarefas rotineiras sem ter de pensar conscientemente naquilo que estamos a fazer. Se eu trabalhar no supermercado e parar o carro diariamente no mesmo sítio, acabarei por me dirigir a esse sítio no final do expediente sem ter de pensar “onde parei o carro?”.

Memória de Curto Prazo

O “output” do cérebro é mostrado no nosso “ecrã” consciente. Enquanto escrevo isto, a minha consciência está concentrada naquilo que estou a fazer, e é isso que neste momento ocupa a minha memória de curto prazo. Este tipo de memória pode ser equiparado à memória RAM do computador. É uma parte da memória dedicada à tarefa do presente, e é esvaziada logo que essa tarefa seja terminada.


Recordar

Cada som que alguma vez ouvimos, cada palavra, cada imagem, cada toque, cheiro ou saber, estão guardados na memória de longo prazo, assim como as emoções que sentimos no momento em que essas recordações foram registadas. Embora o cérebro grave cada pedacinho de informação das nossas vidas quotidianas, normalmente somos apenas capazes de recordar aquilo que passou pelo “ecrã” da nossa memória de longo prazo. Não seríamos capazes de nos lembrar da matrícula de todos os carros com que nos cruzamos no caminho para o emprego, mas se nos concentrarmos numa dessas matrículas em particular, se a repetirmos várias vezes, conseguimos estabelecer uma ligação consciente, e essa matrícula estará mais prontamente disponível quando nos quisermos lembrar dela.


Quanto mais atenção dermos a uma determinada informação na nossa memória de curto prazo, mas acessível essa informação ficará a partir da memória de longo prazo.



Adaptado de: The Nuts and Bolts of Meditation

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

The Nuts and Bolts of Meditation - Parte II

O CÉREBRO

O cérebro é um órgão do corpo que, como todos os outros órgãos, está concebido para desempenhar uma ou mais tarefas específicas. Uma das principais tarefas do cérebro é o controlo de todo o corpo físico. O batimento cardíaco, a digestão, a temperatura e todos os processos “automáticos” que nos mantêm vivos são controlados pelo cérebro. Isto é possível através do processamento de informação sensorial interna e externa, como se de um computador se tratasse.

O cérebro também nos fornece um interface de percepção consciente, aquilo a que os cientistas chamam “auto-percepção”. Os inputs dos cinco sentidos são processados pelo cérebro e “mostrados” num “ecrã” mental onde podemos observar e interagir.

Embora o processamento cerebral de informação electroquímica seja relativamente bem conhecido, ninguém sabe como pode o cérebro permitir-nos ter a percepção de nós próprios. Na verdade o cérebro não tem nenhuma localização específica para o armazenamento da memória, por isso a forma como as recordações são formadas e registadas permanece um mistério.

Estas observações mostram-nos dois aspectos do cérebro a considerar: o processo electroquímico puramente físico, e o processo de auto-percepção e memória. Começaremos por abordar a “mecânica”, o aspecto puramente físico do cérebro.

O nosso cérebro é constituído por biliões de neurónios que utilizam a electricidade para comunicar entre si. Estas células estão permanentemente a gerar sinais eléctricos, nunca são “desligadas” ao longo do seu período de vida. A combinação de biliões de neurónios que enviam sinais simultaneamente produz no cérebro uma actividade eléctrica de grandes dimensões. Essa actividade pode ser detectada e mapeada utilizando equipamento biomédico como o Electroencefalógrafo (EEG).

As ondas cerebrais podem ser agrupadas pela frequência e estado mental a que estão associadas:

- Delta: 0.5 Hz a 4 Hz - Sono profundo, sem sonhos
- Teta: 4 Hz a 8 Hz - Sonolência, primeira fase do sono e do sonho
- Alfa: 8 Hz a 14 Hz - Estado relaxado mas alerta
- Beta: 14 Hz a 30 Hz - Estado de elevada concentração

Na realidade não é possível simplesmente mudar de uma frequência de ondas para outra. Todas as frequências estão presentes simultaneamente, mas apenas uma delas é a dominante em cada momento.

O seguinte esquema mostra, de um modo muito simplificado, as três camadas básicas em que está organizado o cérebro humano. O tronco cerebral é vulgarmente designado por córtex reptiliano, e é uma estrutura comum a todos os animais. O tronco cerebral é responsável pela regulação dos sistemas automáticos do organismo, como o batimento cardíaco, a temperatura, a digestão, etc. É também no tronco cerebral que são gerados os impulsos mais rudimentares de auto-preservação (tipo “lutar ou fugir”) e de agressividade.



Os répteis e anfíbios não desenvolvem muito o cérebro para além do tronco cerebral, por isso animais como a rã passam a sua vida dependentes de decisões tipo “piloto automático”. Por exemplo, a decisão de comer é baseada na presença de 3 informações visuais provenientes do ambiente próximo: 1) O alvo está a mover-se? 2) O alvo está próximo suficiente? 3) O alvo cabe na minha boca? Se a informação visual obtida responder “Sim” a estas 3 perguntas, então a rã saltará “automaticamente” tentando apanhar a presa. A decisão de fugir é semelhante: se o alvo estiver em movimento, se for maior do que a própria rã e se estiver demasiado perto, a rã saltará automaticamente para a água, mergulhando até se encontrar a uma distância segura. O mais importante a reter deste exemplo é que a rã não tem a capacidade de decidir como deve reagir. Cada um dos seus movimentos está pré-determinado pelos sinais que são processados pelo cérebro tipo “piloto automático”.

A segunda camada cerebral designa-se por “sistema límbico”, e é responsável pela nossa vida emocional. O sistema límbico não só está envolvido na criação de memórias, como parece adicionar emoções às memórias que vão sendo criadas, tornando essas emoções disponíveis ao nosso “ecrã mental” cada vez que as memórias são relembradas.

A última camada cerebral é chamada de neocórtex, e conhecida como “cérebro racional”. É a área onde são executadas as operações lógicas e de racionalização. De um ponto de vista meramente físico, é aqui que reside o nosso “ecrã mental”, a nossa percepção.


Adaptado de: The Nuts and Bolts of Meditation

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

The Nuts and Bolts of Meditation - Parte I

Por sugestão da Cabeça Direita do Monstro de Duas Cabeças (estudiosa das religiões mais obscuras, colega de devaneios metafísicos e querida amiga), começo aqui uma série de posts contendo a tradução/adaptação do livro electrónico “The Nuts and Bolts of Meditation”, de Bill Cozzolino.
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INTRODUÇÃO


Se seguirmos um rio contra a corrente, acabaremos por encontrar a sua fonte.


Em todas as épocas da História humana, têm existido cientistas que tentam seguir o curso do “rio” que é o universo físico. A Ciência procura explicar como funciona o mundo material através de observações, hipóteses e experiências destinadas a provar certas conclusões. Cada nova descoberta científica leva a uma nova questão, cada conclusão impulsiona a Ciência a subir um pouco mais, rio acima.

Quando descobrimos como funcionam as coisas, conquistamos o controlo sobre os processos envolvidos. Podíamos ter parado em qual quer ponto do rio das descobertas, mas a nossa necessidade inata de conhecimento tem-nos mantido nesta caminhada, que nos levou até ao átomo, às unidades fundamentais que constituem o universo físico, e mais além! O nosso conhecimento e entendimento dos processos envolvidos no nosso mundo material deu-nos a capacidade de controlar esses processos, e de mudar a forma como vivemos.


A evidência do poder quântico do cérebro está por todo o lado!


Grandes cientistas como Louis Pasteur, Thomas Edison e Albert Einstein deram passos gigantescos no conhecimento, aparentemente de um dia para o outro! Os poderes mentais que encontramos em alguns dos maiores especialistas incluem as extraordinárias capacidades para calcular números e datas, para memorizar material escrito, visual e oral, para assimilar automaticamente outras linguagens, e para tocar instrumentos musicais sem nunca o ter aprendido.

Será que todos os nossos cérebros são iguais, ou existe algo mais, uma espécie de “propriedade oculta” que permite certas excepções?

O canal Discovery emitiu recentemente um programa intitulado “Tudo o que precisa de saber sobre o cérebro”, no qual foram reveladas experiências científicas nas quais uma sonda electromagnética colocada num cérebro aparentemente mediano tornava-o capaz de grandes talentos instantaneamente!


Agora podemos ver o que se passa dentro do cérebro!


O cérebro humano tem uma “corrente” relativamente constante de actividade electroquímica que acaba por resultar num “oceano” de percepção consciente. Os instrumentos científicos modernos pode mostrar e registar os padrões electroquímicos do cérebro e as suas variações, pelo que nos é possível saber o que se passa dentro do cérebro durante o seu funcionamento.

Sabemos que existe uma relação directa entre o alvo da nossa atenção, as tarefas mentais que desempenhamos e os padrões electroquímicos cerebrais resultantes dessa actividade. Diferentes processos mentais como resolução de problemas, sono, sonho e mudanças de humor produzem diferentes padrões de ondas cerebrais. Esses padrões alteram-se porque temos um controlo consciente da nossa atenção, e aprofundam-se à medida que apontamos conscientemente a nossa atenção para um único alvo. O termo utilizado habitualmente para descrever o controlo consciente do alvo da atenção e a actividade cerebral daí resultante é Meditação. Para muitas pessoas, esta palavra tem conotações místicas, metafísicas ou religiosas, mas o facto é que estamos permanentemente a escolher onde concentramos a nossa atenção, por isso, na prática, estamos sempre a meditar!

O Dr. Tomio Hirai relata que os meditadores Zen conseguem alterar a frequência das suas ondas cerebrais entre Alfa e Teta, consoante a profundidade do seu estado meditativo. De acordo com o Dr. Hirai, “A Meditação não é apenas um estado entre a estabilidade mental e o sono, mas uma situação na qual a mente funciona a um nível óptimo. Nessa situação, a pessoa está relaxada mas pronta para aceitar e responder positivamente a qualquer estímulo que lhe possa chegar”.

A Wikipedia define a palavra Meditação da seguinte forma:

- Estado que é experimentado quando a mente se dissolve e se liberta de todos os pensamentos
- Concentração da mente num único objecto (ex. uma estátua religiosa, o movimento da respiração, um mantra)
- Abertura mental ao divino, invocação da protecção de um poder superior
- Análise racional de ensinamentos religiosos (como o conceito budista de “impermanência”)

… É fácil observar que as nossas mentes estão continuamente a pensar sobre o Passado (memórias) e o Futuro (expectativas). Com intenção, é possível abrandar a mente e observar um silêncio interior, também chamado de experiência do momento presente. Esta é uma sensação subjectiva de estar ligado à universalidade do Ser. A Meditação é o método que permite chegar a esta vivência. É o meio experimental de separar os pensamentos da parte da nossa consciência que os compreende: o observador. Ao desligarmos a mente conseguimos observar os detalhes mais subtis e controlar aquilo a que damos atenção.



Existe já um extenso conjunto de trabalhos científicos que atestam o efeito positivo da Meditação no aumento da resposta imunitária, na redução do stress, na diminuição da dor e na melhoria do estado geral de saúde.


A questão é: a Meditação funciona!


Este livro aborda a Meditação de um ponto de vista puramente científico. O cérebro produz um “rio” de actividade eléctrica detectável, e se o seguir contra a corrente, acabará por encontrar a sua fonte.

Desfrute da viagem!


Fonte: The Nuts and Bolts of Meditation

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Tarot - IX. O Eremita

"Fui para os bosques porque desejava viver deliberadamente, enfrentar apenas os factos essenciais da vida, e ver se podia aprender tudo o que eles tinham para ensinar; para que, quando morrer, não descubra que não vivi."

Henry David Thoreau, filósofo norte-americano (1817-1962)


"Parecia-lhe um ritual necessário preparar-se para dormir meditando sob a solenidade do céu nocturno… uma misteriosa transacção entre a infinidade da alma e a infinidade do universo."

Victor Hugo, escritor francês (1802-1885)


Simbologia e Arquétipo

Um homem idoso com vestes de monge desloca-se na escuridão da noite, numa paisagem inóspita, segurando uma lanterna.


A Viagem do Louco

Depois de uma vida atribulada e longa, de criações, de compromissos, de amores e ódios, de sucessos e fracassos, o Louco sente uma profunda necessidade de se retirar. Encontro o refúgio perfeito numa pequena cabana no meio da floresta, onde pode ler, organizar-se, descansar ou simplesmente pensar. Mas todas as noites ele viaja pela paisagem outonal, levando consigo apenas o bordão e a lanterna.

É durante estes passeios, do ocaso à aurora, observando e examinando tudo o que lhe desperta curiosidade, que ele vê e absorve aquilo que lhe tinha escapado até então, sobre si próprio e sobre o mundo. É como se os cantos secretos da sua mente, cuja existência era até agora desconhecida, fossem lentamente iluminados. De certa forma, ele voltou a ser o Louco: como no início, segue para onde a inspiração o leva. Mas enquanto o Louco levava o bordão sobre o ombro, com uma trouxa de conteúdo desconhecido, o bordão do Eremita está à sua frente. E ele carrega uma lanterna, não uma trouxa. O Eremita é como essa lanterna, iluminado por dentro por tudo aquilo que é.







O Eremita no baralho Fantastical Creatures (US Games)






Notas Interpretativas

Simbolizado pelo signo de Virgem, o Eremita é a carta da introspecção, da análise e, até certo ponto, de uma espécie de “virgindade”. Este não é o momento para socializar: há um desejo de paz interior e de solidão. Nem é o tempo para a acção, para discutir ou tomar decisões. É o tempo para pensar, organizar, reabastecer. Podem surgir sentimentos de frustração e descontentamento nesta etapa de reclusão, além de alguma impaciência no lidar com as outras pessoas. Mas como um artista que se esconde durante algum tempo para depois emergir com a sua obra-prima, este tempo de silêncio permite encaixar todas as peças do puzzle mental antes de passar à acção.

Outro aspecto importante desta carta é que o Eremita parece sempre estar a mover-se. Nunca o vemos fechado no seu refúgio, mas antes deambulando, procurando. Este é o aspecto irrequieto de Virgem, sempre em busca de informação, analisando, estabelecendo relações, sempre céptico e disposto a “ver com os seus próprios olhos”.






O Eremita no baralho Thoth (US Games)







O Eremita pode também representar uma pessoa sábia e inspiradora, um amigo, professor ou terapeuta, alguém que o Querente costuma consultar a sós, alguém que pode não ser do conhecimento dos restantes amigos e familiares do Querente. Esta é uma pessoa capaz de iluminar aquilo que antes era misterioso e confuso. E que pode ajudar o Querente a encontrar aquilo que procura.